O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus


Análise fílmica e semiose do premiado filme, ganhador do oscar de melhor ator coadjuvante (Heath Ledger).

O trabalho de composição em o Mundo Imaginário do Doutor Parnassus é de uma estética surrealista, realizado pelo diretor Terry Gilliam.

O filme gira em torno da companhia teatral ‘Imaginarium’, dirigida por um sábio ancião, Doutor Parnassus, que durante sua juventude viveu em um mundo antigo e místico e fez um pacto com o diabo, para provar a importância das preces na continuidade da vida e do universo. O pacto se fundamentava na obtenção de seguidores, nesta aposta Parnassus ganhou e obteve a imortalidade.

Passaram-se quase mil anos e Parnassus se apaixonou, mas está velho e não vê possibilidades de conquistar a moça, deste modo tenta o suicídio e é impedido por ninguém menos que Mr. Nick. Insatisfeito com a última aposta, Mr. Nick, o diabo, propôs um novo pacto oferecendo jovialidade à Parcy , porém, se um dia ele viesse a ter filhos, quando um deles completasse dezesseis anos deveriam ser entregues ao Mr. Nick.

Nascida, Valentina, filha de Parnassus, pouco antes de completar dezesseis anos ouve as histórias do pai e toma conhecimento de seu destino. Porém, Parcy, realizou uma nova aposta com Mr. Nick, o propósito é conseguir cinco almas até a meia-noite do dia em que Valentina completa dezesseis anos.

Em contrapartida, Tony se une à trupe circense após ser encontrado ‘enforcado’ sob uma ponte. Em um primeiro momento ergue a ‘Imaginarium’, mas é um ganancioso corrupto que roubou dinheiro da máfia russa e desvia fundos de obras de caridade. Compreende o pacto que Parcy fez e se compromete a ajudá-lo sendo a quinta alma, então arrasta Valentina pelo espelho e vive o seu imaginário até que Anton a Valentina o seu caráter.

Sob suas várias faces e seu ar de mistério, Tony encontra Parnassus, que após ter perdido Valentina para o Mr. Nick, fez um novo pacto para recuperar sua filha, a proposta é matar Tony, que de algum modo é protegido por algum tipo de magia ou força.

A composição de arte no filme é gritante, como se Terry Gilliam realmente quisesse transpor o virtual além das telas, é inegável a qualidade da imagem e todo o trabalho de direção que envolve a sua confecção. É inerente o perfeccionismo de Terry no desenho do set, da cenografia, das relações cromáticas apresentadas nos figurinos e em toda a produção.

O espelho dentro da obra tem um caráter simploriamente dual, pois enquanto objeto de reflexo, o espelho apresenta o mundo ('Imaginarium ou imaginário') daquele que reflete. Há um olhar da psique do indivíduo que mergulha no imaginário, dando vida às suas fantasias e desejos mais pertinentes, fortalecendo o elo entre o facilitador (Parnassus) e aquele que entra no espelho. O caráter dual do espelho é notório pela conexão de mentes estabelecida entre Parnassus, como facilitador, e o indivíduo refletido.

Podem-se lembrar os conceitos do Olhar, em Jacques Aumont, pois quando o indivíduo olha o objeto de reflexo ele é remetido às suas lembranças, desejos e fantasias, induzidos através de uma sugestão hipnótica do transe do Doutor Parnassus por uma ponte telepática que interliga as mentes. O elo telepático permite que o facilitador capte o interior do indivíduo (lê-se essência, alma) e crie as condições para a reprodução desses elementos. O olhar é subjetivo.

A produção do filme quase foi cancelada, devido à morte prematura de Heath Ledger que não havia rodado grande parte das cenas. O que realmente salvou o filme foi o material que já estava finalizado, as cenas finais. Para solucionar a ausência de Ledger o roteiro fora modificado e seu personagem ganhou as interpretações de Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel.

Ledger é insubstituível, suas atuações são intensas e sua morte foi um fardo para o cinema mundial. Mas Johnny Depp é um ator de grande talento com papéis em sua carreira tão intensos quanto os de Ledger. Foi o único no filme a interpretar com perfeição e encarnar o próprio Ledger e sua atuação. Os mais desavisados nem notarão que é o Johnny Depp.

Jude Law segue uma outra linha de atuação, não encarna Ledger, ele introduz a segunda fase do personagem, quando ele começa a demonstrar a sua falta de caráter.

Já Colin Farrel representa a terceira fase de Anthony Shepherd ('Tony'), que liberou toda a sua falta de escrúpulos e caráter. Colin é o que mais se difere da atuação de Ledger, não lembra em nada o ator.

Andrew Garfield é o coringa do roteiro, representa um personagem que tem o dever de desmascarar o protagonista para salvar sua amada e poder vivenciar seu amor. Embora não seja um personagem intenso, o ator se saiu bem ao representá-lo e cumpriu a proposta do papel.

O filme foi indicado ao oscar em duas categorias, melhor ator coadjuvante e melhor direção de Arte. Heath Ledger recebeu o prêmio póstumo de melhor ator coadjuvante e sua morte infelizmente foi o fator principal para a grande repercussão do filme. De qualquer forma o filme tem um trabalho estonteante de arte, atuações brilhantes, como a de Johnny Depp encarnando o próprio Heath Ledger e sua atuação. Foi o último trabalho de Ledger e certamente não deixou nada a desejar.

Terry Gilliam em homenagem ao amigo e ator, Heath Ledger, introduziu uma fala no roteiro representada por Johnny Depp, sobre os atores mortos. "São imortais, não irão envelhecer, nem engordar, não ficarão doentes ou desabilitados, estão além do medo, porque são jovens para sempre!”

Rodrigo Mesquita

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