| No comment yet

A Maldição da Flor Dourada

Do mesmo diretor de ‘Herói’ e ‘Clã das Adagas Voadoras’, Zhang Yimou, ‘A Maldição da Flor Dourada’ é um épico Chinês que retrata o período da última dinastia Tang, no século X. O filme foi o escolhido da China para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, porém foi nomeado ao Oscar de melhor figurino.

O filme faz reverência à flor de Crisântemo, colhidas no outono para seu festival. Há uma analogia visível com o dourado da flor de Crisântemo nos jardins do palácio, com as armaduras douradas dos guerreiros. Desta forma, o argumento e roteiro são estruturados com base no trecho do seguinte poema Chinês oferecido ao líder rebelde Huang Chao, no período da dinastia Tang:

“Quando chega o outono no nono festival, minha flor irá florescer e matar todas as outras. Quando seu perfume alcançar o céu, toda a cidade será revestida de dourado”.

O Enredo

Na véspera do festival Chong Yang, durante o outono, o palácio é coberto com flores de crisântemo. A imperatriz, Phoenix, e seus servos aguardam o retorno do imperador, Ping, porém a cerimônia de boas-vindas fora cancelada, pois o imperador foi buscar seu filho, o príncipe Jai, que patrulhava as fronteiras do império.

Ao chegar à hospedaria oficial, o imperador é recebido pelo príncipe Jai com um gesto de mesura e as seguintes palavras: ‘O filho se ajoelha diante do imperador’. No entanto após batalhar com seu filho e atestar que foi correto mandá-lo para a fronteira por sua habilidade, o imperador não hesita em avisá-lo de seus erros do passado e para não querer aquilo que não lhe é dado.

Durante o festival a família deverá permanecer unida, mas a imperatriz não mantém uma boa relação com seu imperador que a força a tomar um remédio há dez anos, para curar uma suposta anemia. Mas acontece que nos últimos dez dias a fórmula mudara e a imperatriz começa a sentir alguns efeitos negativos.

Por muitos anos a imperatriz e o príncipe Wan, que não é seu filho biológico, mantiveram um romance. Sentindo-se prisioneiro, o príncipe herdeiro planeja partir do palácio com sua amante secreta, Jiang Chan.

Análise

Neste cenário se desenrola a trama, marcada por traições, hierarquias, ambições e riquezas. Tudo regado a muito sangue e uma riqueza de detalhes na cenografia e figurino capaz de fazer qualquer um suspirar com a bela fotografia.

É inerente o perfeccionismo no desenho do set, da cenografia, das relações cromáticas apresentadas, na confecção de objetos de cena e na indumentária dos personagens. A direção de arte se faz presente em todo momento, pois revela o desenvolvimento de um amplo trabalho de pesquisa e confecção de elementos fictícios.

Zhang Yimou traz ao mundo um dos mais exóticos e magníficos cenários do mundo cinematográfico com uma palheta cromática de formigar o estômago. É imprescindível dizer que a direção de arte se sobrepõe à narrativa em todos os aspectos. Pois nota-se um leque de detalhes, desde o anel, a cor e detalhes nas unhas da imperatriz, até os desenhos da arquitetura do palácio imperial.

Para exibir este universo diegético (próprio da narrativa) Zhang Yimou roda inúmeros planos para mostrar todas as minúcias produzidas para o longa, seja do cenário ou do figurino dos personagens. Podem-se tomar como exemplo os vitrais nos corredores do palácio.

Absolutamente este filme é uma aula de como traduzir um roteiro e enriquecer a narrativa e seu universo, expandindo-os em todos os aspectos. Yimou não deixou faltar os detalhes nem aos figurantes, pois estes, de todo e qualquer modo, representam e fazem parte da obra. Todos devidamente caracterizados com suas vestimentas, detalhes nas cores, maquiagem, unhas, brincos e cabelo.

A arquitetura do set revela um estilo de época, o período da Dinastia Tang. Embora o filme não explore sua concepção histórica, pois os fatos fictícios não são completamente coerentes à história. Há traços estilísticos que datam de diversos períodos da China Antiga. Pode-se considerar o palácio, sua arquitetura é um simulacro da dinastia Ming, em particular, da cidade proibida.

A Maldição da Flor Dourada, um filme de 2006, dirigido e escrito por Zhang Yimou, é completo em todos os quesitos do cinema e sua linguagem. Imperdível para todos os amantes da sétima arte.

Rodrigo Mesquita
| No comment yet

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus


Análise fílmica e semiose do premiado filme, ganhador do oscar de melhor ator coadjuvante (Heath Ledger).

O trabalho de composição em o Mundo Imaginário do Doutor Parnassus é de uma estética surrealista, realizado pelo diretor Terry Gilliam.

O filme gira em torno da companhia teatral ‘Imaginarium’, dirigida por um sábio ancião, Doutor Parnassus, que durante sua juventude viveu em um mundo antigo e místico e fez um pacto com o diabo, para provar a importância das preces na continuidade da vida e do universo. O pacto se fundamentava na obtenção de seguidores, nesta aposta Parnassus ganhou e obteve a imortalidade.

Passaram-se quase mil anos e Parnassus se apaixonou, mas está velho e não vê possibilidades de conquistar a moça, deste modo tenta o suicídio e é impedido por ninguém menos que Mr. Nick. Insatisfeito com a última aposta, Mr. Nick, o diabo, propôs um novo pacto oferecendo jovialidade à Parcy , porém, se um dia ele viesse a ter filhos, quando um deles completasse dezesseis anos deveriam ser entregues ao Mr. Nick.

Nascida, Valentina, filha de Parnassus, pouco antes de completar dezesseis anos ouve as histórias do pai e toma conhecimento de seu destino. Porém, Parcy, realizou uma nova aposta com Mr. Nick, o propósito é conseguir cinco almas até a meia-noite do dia em que Valentina completa dezesseis anos.

Em contrapartida, Tony se une à trupe circense após ser encontrado ‘enforcado’ sob uma ponte. Em um primeiro momento ergue a ‘Imaginarium’, mas é um ganancioso corrupto que roubou dinheiro da máfia russa e desvia fundos de obras de caridade. Compreende o pacto que Parcy fez e se compromete a ajudá-lo sendo a quinta alma, então arrasta Valentina pelo espelho e vive o seu imaginário até que Anton a Valentina o seu caráter.

Sob suas várias faces e seu ar de mistério, Tony encontra Parnassus, que após ter perdido Valentina para o Mr. Nick, fez um novo pacto para recuperar sua filha, a proposta é matar Tony, que de algum modo é protegido por algum tipo de magia ou força.

A composição de arte no filme é gritante, como se Terry Gilliam realmente quisesse transpor o virtual além das telas, é inegável a qualidade da imagem e todo o trabalho de direção que envolve a sua confecção. É inerente o perfeccionismo de Terry no desenho do set, da cenografia, das relações cromáticas apresentadas nos figurinos e em toda a produção.

O espelho dentro da obra tem um caráter simploriamente dual, pois enquanto objeto de reflexo, o espelho apresenta o mundo ('Imaginarium ou imaginário') daquele que reflete. Há um olhar da psique do indivíduo que mergulha no imaginário, dando vida às suas fantasias e desejos mais pertinentes, fortalecendo o elo entre o facilitador (Parnassus) e aquele que entra no espelho. O caráter dual do espelho é notório pela conexão de mentes estabelecida entre Parnassus, como facilitador, e o indivíduo refletido.

Podem-se lembrar os conceitos do Olhar, em Jacques Aumont, pois quando o indivíduo olha o objeto de reflexo ele é remetido às suas lembranças, desejos e fantasias, induzidos através de uma sugestão hipnótica do transe do Doutor Parnassus por uma ponte telepática que interliga as mentes. O elo telepático permite que o facilitador capte o interior do indivíduo (lê-se essência, alma) e crie as condições para a reprodução desses elementos. O olhar é subjetivo.

A produção do filme quase foi cancelada, devido à morte prematura de Heath Ledger que não havia rodado grande parte das cenas. O que realmente salvou o filme foi o material que já estava finalizado, as cenas finais. Para solucionar a ausência de Ledger o roteiro fora modificado e seu personagem ganhou as interpretações de Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel.

Ledger é insubstituível, suas atuações são intensas e sua morte foi um fardo para o cinema mundial. Mas Johnny Depp é um ator de grande talento com papéis em sua carreira tão intensos quanto os de Ledger. Foi o único no filme a interpretar com perfeição e encarnar o próprio Ledger e sua atuação. Os mais desavisados nem notarão que é o Johnny Depp.

Jude Law segue uma outra linha de atuação, não encarna Ledger, ele introduz a segunda fase do personagem, quando ele começa a demonstrar a sua falta de caráter.

Já Colin Farrel representa a terceira fase de Anthony Shepherd ('Tony'), que liberou toda a sua falta de escrúpulos e caráter. Colin é o que mais se difere da atuação de Ledger, não lembra em nada o ator.

Andrew Garfield é o coringa do roteiro, representa um personagem que tem o dever de desmascarar o protagonista para salvar sua amada e poder vivenciar seu amor. Embora não seja um personagem intenso, o ator se saiu bem ao representá-lo e cumpriu a proposta do papel.

O filme foi indicado ao oscar em duas categorias, melhor ator coadjuvante e melhor direção de Arte. Heath Ledger recebeu o prêmio póstumo de melhor ator coadjuvante e sua morte infelizmente foi o fator principal para a grande repercussão do filme. De qualquer forma o filme tem um trabalho estonteante de arte, atuações brilhantes, como a de Johnny Depp encarnando o próprio Heath Ledger e sua atuação. Foi o último trabalho de Ledger e certamente não deixou nada a desejar.

Terry Gilliam em homenagem ao amigo e ator, Heath Ledger, introduziu uma fala no roteiro representada por Johnny Depp, sobre os atores mortos. "São imortais, não irão envelhecer, nem engordar, não ficarão doentes ou desabilitados, estão além do medo, porque são jovens para sempre!”

Rodrigo Mesquita